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One-shot - A carta [espécie de...tributo?]

Terça-feira, 21.06.11

 


Deixei o telemóvel cair aos mesmo tempo que as minhas lágrimas. Eu sabia que mais tarde ou mais cedo aquilo ia acontecer. Ele já estava doente à muito tempo, tanto física como mentalmente. Fui a pé para o hospital. Não tinha pressa. Não estava com vontade de o ver pálido e quieto sem me falar. Infelizmente cheguei mais rápido do que aquilo que queria. Entrei dizendo quem era e quem queria ver. A senhora de cabelo grisalho e olhos castanhos cansados olhou para mim confusa e não me deixou entrar, afinal não deixam ver um morto, mesmo sendo da família ou tendo uma relação.
 Deixe-a entrar soou uma voz conhecida atrás de mim e eu virei-me para o ver. Vamos? a voz dele tranquilizava qualquer paciente, infelizmente não a mim, o que fazia sentido pois não era sua paciente. Assenti-lhe e fui atrás dele até ao quarto em que tinha adormecido para viver eternamente.
 Pensava que íamos para a morgue a minha voz falhava constantemente, mas não chorava.
 Foi à pouco tempo, já que me pediste para o ver, eu decidi coloca-lo lá mais tarde. Falava com cuidado, como se ele estivesse apenas a dormir e fosse acordar, mas não estava e não ia.
Até as tatuagens dele, as tatuagens que lhe davam vida ao corpo pareciam sem cor. Peguei na sua mão que surpreendentemente ainda não estava fria.
Estive horas a fio naquele estado, com a mão na sua tentando aquece-la e a olhar para ele, com as lágrimas a cair. Talvez estivesse estado demasiado tempo, porque o médico chamou-me para ir embora, mas eu não podia. Tinha que ficar mais um pouco com ele.
 Mais uma vez me chamou aproximando-se. Chamou-me novamente e desta vez tocou na mão que tinha em cima dele. Eu não reagi, não queria. Não conseguia acreditar que ele estava ali parado a dormir, a sentir-me chorar e a apertar-lhe a mão e não tinha dito nada. Nem uma única palavra como: “Pára!”. Nada, não tinha dito nada. As lágrimas ficaram mais fortes quando pensei no riso dele. Se estivesse naquele estado à sua frente ele deveria rir-se e colocar uma mão na minha cabeça aproximando-me do peito e depois de muitas caricias ele diria:
-Amo-te.
Nunca dizia que as coisas iam correr bem mesmo sabendo que não era verdade, não me iludia ao contrário das outras pessoas. Eu gostava dele por isso. Eu amava-o por isso.
-Porque é que não falas? - Era a primeira vez que lhe estava a falar em voz alta depois dele ter morrido. - Porquê?
O médico pegou em mim ao colo e senti as minhas mãos separarem-se das dele. Acho que foi aí que chorei que nem uma louca, que berrei e pedi para me largarem, apesar de não fazer o mínimo para me soltar. Sentia-me a entrar no buraco sem fundo e não havia luz, estava frio e escuro e eu era uma menina com medo dele.
O médico deixou-me em casa, e eu disse que caminhava pelo meu próprio pé e não precisava que me acompanhasse. Ele despediu-se e disse: as melhoras. Eu fiquei com ódio daquelas palavras, talvez se mais alguém lhe tivesse dito aquilo a ele, ele melhoraria. Mas não, deixaram-no sozinho. Deixaram a melhor pessoa do mundo sozinha. Devia ser crime fazer isso. Crime com pena de morte
Quando entrei em casa e o meu pai me viu entregou-me um olhar de pena e disse Já se tinha prolongado muito.
Eu fingi que não o ouvi e fui para o meu quarto. Caí na cama, com forças para pouco, a única coisa que fiz foi abrir a gaveta e pegar no envelope – que dizia: para ti -, ele tinha pedido para eu ler apenas quando ele já não tivesse comigo, quando ele não falasse mais para mim.
-Lê esta carta – disse dando-ma – quando eu não falar mais para ti. – Eu olhei para ele, chocada com a sua falta de confiança e quando peguei nela comecei a chorar e a dizer que ele ia ficar comigo para sempre, que tudo ia correr bem. Ele apenas me deu um beijo e não disse mais nada. Eu devia ter estado atenta e perceber que aquilo ia acontecer, afinal, ele não disse:
- Não, vai correr tudo bem. – Ele não disse nada.
Estive durante horas a tentar abrir aquele envelope, tinha medo de ler a carta. Sabia que depois de lida, as suas palavras eram as últimas. Mesmo que lesse novamente, não iria ser a mesma coisa. A minha mãe entrou, com os olhos vermelhos de ter chorado, eles também eram muito chegados. Ela não disse nada, entrou e sentou-se na minha cama, foi aí que eu retirei a carta do envelope e olhei para ele.


 


 



 


 


Olhei para a minha mãe e abracei-a não resistindo mais.
-Dói muito agora, arde com muita força, mais tarde vai continuar a arder, mas as memórias não vão ser destruídas pela dor.


 


 


Muitos de vocês não conhecem, porque não temos os mesmos gostos musicais, mas eu tenho um baterista preferido, depois do Lars de Metallica, claro. Ele morreu em Dezembro de 2009, eu era para lhe fazer alguma coisa no aniversário da morte dele, mas hoje estive um pouco para o depressiva e decidi fazer. Ele morreu de uma... causa inconclusiva como dizem -.- , mas eu acredito que ele se suicidou .. 
A ideia da carta veio porque ele sempre disse que não vivia até depois dos 30 anos e foi o que aconteceu. 


Aqui em baixo está a música que a banda fez para ele. É calminha para quem não gostar de heavy metal e isso.


Autoria e outros dados (tags, etc)

por Cate J. às 00:44

18 comentários

De Cate J. a 21.06.2011 às 20:46

ainda bem que gostaste 
beijinho

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Comentários recentes

  • Helena Pinto

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