Bem, eu estava a tentar fazer um pouco do capítulo de Life Hurts, já que vou numa parte bastante interessante mas fui ao facebook e vi este video a baixo. Fiquei apaixonada e nao me apeteceu mais escrever sobre a minha história. Depois pensei: Porque não fazer uma One-Shot? Já não faço à meses. Aqui está ela. É um pouco triste, aviso já.
-Só vai ter esta parte.
Abri a porta das traseiras de casa com cuidado e olhei para o relógio, eram sete e meia da manhã, a minha mãe já devia estar acordada. Tal como eu pensara, mal abri a porta vi a minha mãe sentada nas escadas. Estava com profundas olheiras e com ar cansado que lhe davam um ar mais envelhecido, era difícil pensar nela como se tivesse trinta e quatro anos. Olhou para o relógio desagradada, como se estivesse muito chateada por ter saído e ter chegado a estas horas, mas no fundo até agradecia. -Porque é que vens só agora? – Perguntou ela. – Lá por faltar muito pouco para seres maior de idade não quer dizer que… - ela começou a chorar e eu tive que me aproximar, mesmo tendo ficado chateado com que ela me ia dizer. -Mãe. – murmurei tentando fazer com que ela olhasse para mim. -A tua irmã está outra vez com febre – disse ela secando as lágrimas e pegando num cigarro. Olhei para o topo das escadas e preparei-me para as subir. -Adam, agora não. Ela está a dormir. – Tentava a minha mãe parar-me. -Estás para aí a chorar, mas também não fazes nada – respondi-lhe – o médico disse-te para a levares ao hospital mal ela tivesse algum sintoma como o da última vez. – Não conseguia evitar fazer o meu tom de voz subir, ela precisava disto. A minha mãe olhou para mim chocada como se estivesse a dizer uma mentira descabida. Ela não se importava connosco, não podia negar que nos amava, mas não se importava. Se o fazia, nunca deu provas. Abri a porta do quarto e vi a minha irmã mais nova a dormir de barriga para cima e com o seu ursinho a seu lado. Quando me sentiu abriu os olhos azuis e sorriu-me. Eu abri a janela para que o sol entrasse e iluminasse o seu cabelo ruivo às ondinhas. -Bom dia Mar. – Ela ria-se sempre quando eu lhe chamava Mar, que era o diminutivo que eu usava para Margaret. -Olá Adam. -Como te estás a sentir? – Perguntei. -Bem – e deu-me o sorriso mais inocente que tinha. -A mãe disse-me que estiveste com febre – disse pegando a na sua mão delicada. -Sim, mas agora sinto-me melhor. – Sorriu novamente. A nossa mãe entrou no quarto tentando sorrir. -Mesmo assim, vou levar-te ao hospital. – Margaret fez-me um olhar triste, ela não gostava de ir lá, dizia que não gosta de picas – Margaret, por favor. – Pedi-lhe fazendo carinha de cachorrinho abandonado. Ela fez uma cara do tipo: “Se tem mesmo que ser” e eu peguei nela ao colo. Estava mais leve, o que me deixava ainda mais preocupado. Não que tivesse emagrecido de um dia para o outro, mas já não pegava nela à algum tempo. Desci as escadas com cuidado e levei-a até ao carro da minha mãe. Ela preparou-se para conduzir, mas eu entrei primeiro que ela e fiz com que fosse para o banco ao meu lado. -Ainda não tiraste a carta. - Avisou. -Que se f*d*! – resmunguei arrancando. A verdade é que estava bastante preocupado com Margaret, ela podia sentir-se bem mas isso não queria dizer que ela realmente o estivesse. -Vai mais devagar – resmungou a minha mãe, mas eu não lhe dei ouvidos e acelerei. Pelo espelho olhei para a minha irmã que estava a ficar cada vez mais pálida. -Mãe, olha pela Margaret – quando lhe pedi isto, a minha mãe quase que entrou em choque. Algo se estava a passar com ela. Felizmente o hospital não era muito longe e a minha rapidez era eficiente. Apressei-me a sair do carro sem o desligar e fui tirar a minha irmã da cadeira em que a tinha colocado. A minha mãe também saiu para voltar a entrar e ir estacionar o carro em algum lugar. Entrei nas urgências e mal a viram repararam que algo estava errado e pegaram logo nela. Pediram que fosse preencher umas folhas e explicar o que ela tinha e não me deixaram mais vê-la. Pediram-me para ficar sentado num corredor, tal e qual àqueles que se vêem nos cinemas, são longos, escuros e sem ninguém. Solitários, acho que é a melhor palavra. A minha mãe correu até mim. Eu estava com os cotovelos nas minhas pernas e com as minhas mãos tapava a minha boca e nariz. -Já te disseram alguma coisa? – Perguntou a minha mãe. Eu abanei a cabeça como sinal de negação. Estivemos calados um para o outro e sem respostas dos médicos durante duas horas, ou talvez apenas uma. Eu só sabia que estava a sentir o pior sentimento que podia existir. Aflição, com ela vem a dor, o medo e a perda, nesses sentimentos vêm outros ainda piores. Eu sabia que o estado de saúde dela estava pior, mas se o cancro tivesse voltado com força… Abanei a cabeça tentando fazer com que estes pensamentos saíssem da minha cabeça. -No que estás a pensar? – Fez novamente uma pergunta a minha mãe. Olhei para ela. -Porque é que estás preocupada? Nunca te preocupaste, mesmo. -Isso não é verdade. – Retorquiu a minha mãe. -É. – Levantei-me – Ela está aqui porque tu não te importaste quando ela deu os primeiros sintomas, porque tu desde que ela era criança que só te importavas com o dinheiro que a empresa poderia lucrar e em comprar todo o tabaco que quisesses. – Foi desta, andava com isto preso à demasiado tempo e agora ela recebia tudo de uma só vez. Magoava, eu sei, mas eu já estava magoado à bastante tempo. Ela levantou-se e ia dizer algo, mas o médico entrou no corredor e veio na nossa direcção. -Há novidades? – Perguntei. O médico assentiu, conhecia aquela expressão. Boca torta, lábios pressionados, ruga na testa e as mãos a segurarem com muita força um maço de folhas. -Ela está estável, mas… com muita pena minha… - o meu peito pareceu querer explodir, – o estado de saúde dela piorou muito. Tive que me sentar. Sabia o que o médico ia dizer a seguir, já o tinha ouvido à algum tempo atrás. -Não acho que ela passe de hoje – murmurei ao mesmo tempo que o médico. Ele olhou para mim e suspirou saindo. A minha mãe encostou-se à parede e escorregou por ela a baixo. Eu levantei-me, tinha que a ver. -Onde vais? -Vê-la. Não precisas de fingir mais e vir atrás de mim, eu sei que nem um segundo aguentarias ao pé dela. Fui atrás do médico e acabamos por entrar os dois ao mesmo tempo. -Podes falar com ela, tenta é que ela não fale muito. – Aconselhou o médico saindo. Senti um aperto no coração ao vê-la cheia de tubos e máquinas que apitavam e apitavam sem parar. Por um lado sentia-me um pouco culpado, sabia que não tinha culpa mas também sabia que devia ter estado mais atento. Ela estava acordada e já tinha recuperado um pouco a cor. Quando me viu sorriu, os seus olhos azuis não brilhavam e o seu cabelo ruivo tinha perdido a luminosidade. -Olá. – cerrei os punhos atrás das costas fazendo-me de forte. -Adam! – exclamou toda contente. -Como te sentes? – perguntei pela segunda vez naquele dia. -Eu sei que vou morrer. – Disse ela olhando-me nos olhos, mas eu tive que os desviar para os seus pés, não conseguia… Eu admirava-a. Tinha apenas oito anos, apenas oito e era tão esperta. Mesmo sendo sensível, a menina mais sensível que eu conheci em toda a minha vida, ela não chorava por medo nem demonstrava que o tinha. Ao contrário de mim, um rapaz de dezassete anos que não conseguia segurar as lágrimas ao ver a irmã a morrer. -Não digas isso Mar. – Pedi-lhe. Sentia-a a olhar para mim de um modo estranho, olhei para ela e vi-a com ar interrogativo. -Mas é verdade, sempre disseste para eu dizer a verdade. -Sim, mas… -Eu não tenho medo mano. – Interrompeu-me, sorrindo. Sempre a sorrir. -Como? Porquê? – Perguntei pegando na sua mãozinha e apertando-a. Estava fria. -Porque tu sempre me disseste para não ter medo pois tu sempre estarias ao meu lado. – Tive que, novamente, virar a cara, não queria que ela me visse, estava a chorar baba e ranho como um verdadeiro bebé. Eu sim tinha medo, não queria ficar sozinho, ela era a única coisa que eu tinha. Talvez estivesse a ser egoísta, mas não queria ficar neste mundo sem uma das únicas pessoas que me faz sorrir e que, ainda por cima, tinha muito mais oportunidades de crescer melhor que se não fosse esta maldita doença. -Tu também não devias ter medo, Adam, sabes que vou estar sempre contigo não sabes? – Perguntou-me ainda a sorrir. Eu olhei para ela e dei-lhe um beijo na mão. -Eu amo-te princesa. – murmurei. -Eu também mano. E como se fosse num filme, as máquinas começaram a apitar freneticamente e eu sabia que não havia nada a fazer, mesmo assim gritei como uma rapariga e pedi-lhe para não me deixar. As lágrimas escorriam pela minha cara e eu limpava-as com uma fúria poderosa. -És a única coisa que eu tenho na vida, pelo amor de deus! – Gritei-lhe mesmo sabendo que ela já estava morta. Fiquei mais alguns minutos a olhar para ela, enquanto os médicos a cobriam e faziam o que tinham a fazer. -Desculpe, mas vai ter que sair. -Não. – murmurei, não queria sair, queria ficar com ela e a vê-la. Agora tinha um ar tão sereno. -Desculpe – pedia um enfermeiro e acompanhou-me até à porta. Quando a fecharam vi a minha mãe, também lavada em lágrimas, a olhar pela janela, parecia querer dizer-me algo. Deixei que ela se acalmasse um pouco. -Eu importo. – Declarou. Fiquei a encara-la durante algum tempo e finalmente percebi que tinha sido um idiota. Ela estava a sofrer tanto ou mais que eu. Afastou-se de mim para olhar, novamente, pela janela e eu virei-lhe as costas andando pelo corredor fora, sem qualquer destino.
pegando num comentário do youtube: deviam colocar isto na tv para que as pessoas vissem o que a arte de grafitar* pode fazer.