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Hidra 8 - Podre

Sábado, 06.04.13

8ºCapítulo

Podre


 

Ao chegar ao Concelho, Grace reparou que ele estava igual ao dia anterior, talvez os monstros não gostassem muito do sol forte que se fazia notar quase durante todo o dia.
                -Vamos – disse Rafael que ia à frente, seguido do irmão. Grace limitou-se a ir atrás, para que não fizesse nenhuma asneira, na verdade estava a morrer de medo, mas estava a fazer-se de forte. Assim que entraram de novo no prédio de antes ouviu-se um estrondo, parecia uma explosão, mas não demorou muito tempo.
                -O que é que se passa? – perguntou ela num tom baixo
                -Estão a tentar sair e são burros – Rafael abanou a cabeça, enquanto Quint ia ao lado de Grace para o caso de acontecer qualquer coisa. Estavam os dois com a cabeça um pouco inclinada para a frente e com espadas na mão, já que as armas estavam na cintura. Só agora é que ela se apercebia de algo… A sua mãe, no dia em que a tinha mandado para a Fazenda tinha vestido um fato do mesmo tom e do mesmo tecido que os casacos pretos que eles vestiam. Grace parou ao perceber mais outra coisa, isso queria dizer que ela andava a caçar. 
                -Grace – ouvi o nome como um alerta, mas já era tarde, não para ela, mas para Rafael. Um dos monstros estavam a ir na direcção de Grace, que ficou distraída e se deixou ficar para trás, mas Rafael tinha corrido a eles a tempo sendo ele quem tinha sido apanhado pelas garras daquela criatura. Quint também tinha corrido na direcção dela, mas não tinha conseguido ser tão rápido. Apesar de desiludido consigo próprio, não parou e correu até à rapariga que tinha caído com o empurrão de Rafael.
                -Estás bem? – perguntou-lhe Quint fazendo-a olhar nos seus olhos azuis, mas ela desviou-os para Rafael, que ainda estava deitado no chão e não se mexia.
                -E...Estou – disse levantando-se, fazendo com que o rapaz loiro ficasse a olha-la preocupado.
                -Rafael – chamou quando se apercebeu que o irmão estava no chão, correndo até ele e Grace. Ela já o tinha tentado acordar com umas palmadinhas, mas não havia modo. Os dentes do monstro, que já estava morto, não se sabe muito bem como, tinham-lhe perfurado o abdómen. Quint começou a apalpar-lhe os bolsos, mas não estava lá nada. Grace olhou-o apavorada e sem saber o que fazer, o que quer que fossem aqueles monstros, havia mais e só estavam lá eles para ajudar. Ela supunha que ouvissem mais caçadores, mas onde é que estavam eles? – Está aqui – o loiro falava para si próprio, tirando do bolso uma seringa, enfiando no braço de Rafael. – Vamos esperar um bocado, aquilo deve fazer-lhe bem, pelo menos para recuperar a consciência.
                -Está bem – foi a única coisa que ela disse. Estava com demasiado medo que lhe acontecesse alguma coisa, não a ela, mas a Rafael. Apesar da forma dele ser, não lhe queria mal. –Ele… - Grace juntou as sobrancelhas numa expressão preocupada e ao mesmo tempo confusa, abanando a cabeça, ele cada vez estava mais pálido e sangrava mais, aquilo não lhe fazia bem nenhum, estava a mata-lo. – O que é que era aquilo Quint? – perguntou Grace num tom elevado, gritando com ele, mas já só o viu a sorrir.
                -O meu nome não é Quint – ao levantar-se, Grace viu ao longe uma cabeça loira caída. Abri muito os olhos ao perceber que era… Deixou de o ver de repente, porque de um momento para o outro, já ela e Rafael não estavam no chão, mas sim num buraco. Rafael estava em cima dela, mas ela mandou-o para o outro lado
                -O que é que foi isto? – perguntou sem perceber. O que Grace não sabia era que se não se tivesse distraído a correr até Rafael quando o viu desmaiado, teria percebido da troca. Quint deixou de ser Quint nesse momento, um humanóide tinha criado um holograma, bastante real. Em pânico e sem saber como sair dali gritou com todas as suas forças, mas parecia impossível, não valia  pena, iam ali morrer os dois.
Quando começou a sentir que não se aguentava em pé, deixou-se cair no chão, olhando para Rafael que continuava inconsciente. De vez enquanto, ela passava os dedos pelo seu pescoço e ele batia, às vezes os batimentos eram um pouco lentos, mas batia. Ele ainda estava vivo. – Acorda Rafael, tens que nos tirar daqui – murmurou ela, colocando a cabeça dele para o chão, enquanto lhe tirava o cabelo molhado da testa. Ele estava a suar em bica, apesar do frio que ali estava. Grace deixou-se adormecer durante umas horas, sendo acordada por barulhinhos, gemidos de dor. – Rafael? – murmurou olhando logo para baixo, passando a ponta dos dedos pelas suas bochechas sem cor.
                -Onde é que estamos? – perguntei sem forças para se mexer rápido, mas conseguindo arrastar-se, para se encostar à parede, ficando ligeiramente sentado. – Ah, que merda – cerrou o maxilar agarrando-se à barriga e respirou fundo tentando conter-se para não dizer mais asneiras nem gritar.
                -Estamos num buraco, não sei como é que caímos para aqui, mas… estamos num buraco do prédio em que entrámos. – tentou explicar-lhe o melhor que pôde. Ele assentiu, mas passando a mão pela cabeça com um suspiro. – O Quint… eu não sei o que se passou mas… - quando ela voltou a olhar para Rafael, ele já tinha desmaiado novamente. – Rafael... – passou as mãos pelas bochechas e puxou-o para ela.

 

Dois dias depois

 

Estava frio, se Grace saísse do lado de Rafael, que era ou estava extremamente quente, ia começar a congelar, disso ela não tinha dúvidas.
                -Sai daqui – mandou ele tentando afasta-la, mas ela não parecia querer. A ferida de Rafael não sarava, pelo cheiro e o aspecto, Grace até podia dizer que aquilo estava a ficar podre. É mesmo essa a expressão, podre. Nos dois dias que tinham passado juntos Rafael não se tinha mexido muito, Grace tentava falar com ele, mas ele continuava a mesma pessoa rude e otária que costumava ser para ela. Muito sinceramente, ela já nem se importava, só queria sair dali viva.
                -Está frio – disse a bater os dentes uns nos outros – se me separar de ti morro de hipotermia – queixou-se baixinho e de olhos fechados. Rafael suspirou desconfortável e encostou a cabeça à parede olhando para o tecto, onde havia uma abertura, tinha que pensar em fazer alguma coisa, mas nem ele conseguia saltar tanto metro e os arcos de Grace não tinham corda para conseguir escalar a parede, mas… ele tinha a corda. Olhou para o seu cinto, onde tinha todas as armas e abriu a boca para falar, tinha que ser Grace a fazer aquilo, mas antes que pudesse sair algum som da sua boca, Rafael começou a ficar ainda mais pálido do que estava, ao ponto de parecer que as suas orbitas dos olhos iam saltar para fora. Ela mordeu o lábio nervosamente, passando um dedo pela sua bochecha, ele não sobrevivia se a infecção se espalhasse mais…
                -Tenho fome – murmurou dele virando-lhe a cabeça na sua direcção. Ela assentiu, ela também tinha fome. – e com sede – acho que pela primeira vez, ela estava a vê-lo assustado.
                -Eu também tenho – disse de forma desanimada. Ao olhar de novo para ele, viu que estava prestes… Ela tinha que o distrair, tinha que fazer alguma coisa para que ele não se fosse a baixo. – sabes quanto tempo é que o nosso corpo demora a desidratar? Apenas três dias, já passamos três dias aqui, eu quero sair daqui, por favor – talvez aquela não fosse a melhor coisa para o distrair, mas ela não conseguia pensar noutra coisa – Vamos pensar… - a mão de Rafael assustou-a quando agarrou no seu braço fazendo com que ela se aproximasse mais dele.
                -Estou a delirar, não ligues a nada do que eu dizer – disse num tom baixo e rouco ao ouvido dela, fazendo-a arrepiar-se, só restava saber se estava com medo ou com alguma vontade de… de lhe dar mimos.
                -Porque é que estás a delirar? – perguntou não conseguindo deixar de sorrir, estava só a tentar ajuda-lo – sou assim tão boa? – ele olhou os seus olhos e assentiu – Nem tu me resistes – tocou-lhe com as pontas dos dedos nos lábios, o que o fez afastar e abanar a cabeça. A expressão dela modificou-se de novo, estava preocupada e confusa, não sabia o que se estava a passar com ele, definitivamente ela não era esperta. Com um suspiro aproximou-se de novo e devagar. – Porque é que estás a delirar
                -Afasta-te – disse apesar de ser ele quem a estava a agarrar, ela ainda tentou dizê-lo, mas já só sentiu os lábios de Rafael passar pelo seu pescoço, deixando-a totalmente atordoada e arrepiada, aquilo era bom, mas ele estava quase a morrer, como é que podia pensar numa coisa daquelas agora?
                -O que é que estás a fazer Rafael? – perguntou com um suspiro quando começou o começou a sentir já no meio do seu peito, junto ao seu decote. – Rafael? – chamou obrigando-se a acordar. Ele fez o mesmo e levantou a cabeça afastando-se depois dela.
                -Deixa-me em paz – gritou-lhe. 

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