Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.
9ºCapítulo
Mortes e revelações
Rafael já não estava pálido, estava roxo. Grace estava assustada, às vezes, quando se aproximava dele, apesar dos seus pedidos para que ficasse longe, dava-lhe algumas caricias. Ela não queria que ele morresse, não sem o odiar mesmo de verdade. Ele era um casmurro e teimoso e estúpido e irónico, mas para ser assim tinha que ter razões, Grace só queria perceber para o poder julgar de verdade. Neste momento, estava a dar-lhe festinhas com as pontas dos dedos pelo seu cabelo molhado por causa do suor, ele não parava de suar, se ao menos houvesse água para acalmar a febre... Mas não havia, e água era uma das coisas que ela mais desejava agora. Nenhum deles sobreviveria ali mais um dia sem água, sem comida. Grace estava fraca e não estava ferida, então ele... talvez só sobrevivesse mais algumas horas. Por vezes media-lhe a pulsação e conseguia perceber que estava demasiado irregular, assim como a sua respiração.
-Não podes morrer e deixar-me aqui sozinha – murmurou aterrada. Outra coisa que Grace não sabia, era que ele podia sobreviver, mas estava a esforçar-se demasiado, estava a gastar todas as suas energias para se debater contra aquilo que sentia a todas as horas do dia, mas agora ainda mais.
-Grace – Rafael tinha acordado, fazendo com que ela o olhasse atentamente e afastasse as mãos dele, antes que a mandasse afastar-se. Ficou um tempo sem falar, apenas a olha-la e a tentar arranjar ar para ter força. – ata a minha corda à tua flecha. – a sua voz estava rouca e os seus dentes cerrados, devia estar em grandes sofrimento, Grace nem conseguia olhar para a ferida dele, ali até cheirava mal, como ela já tinha pensado, estava a apodrecer. – Rápido – gritou em grande desespero, a rapariga assentiu engolindo em seco e procurou pela corda, vendo que estava à volta da cintura de Rafael, protegida pelo fato de caçador. Assim que a conseguiu tirar, levantou-se e foi buscar uma das suas flechas tentando arranjar uma maneira de atar a corda nela sem que ela caísse. Rafael tinha os olhos vidrados nela, parecia que ia morrer a qualquer momento, essa ideia fazia com que Grace sentisse os olhos tão molhados que ardiam.
-Assim? – perguntou ela puxando a corda com força como um teste, para perceber se com ela ia partir ou não. Ela não tinha muita força, mas a força que aplicou nem fez dobrar a flecha, por isso ela ia conseguir. Só precisava de se tentar coordenar.
-Isso – murmurou Rafael e, para surpresa da rapariga, ele estava de pé, torto e desequilibrado, agarrado à barriga com o braço e À parede com outro. Chegou até perto de Grace e tocou-lhe com as pontas dos dedos nas bochechas rosadas, mas assim que percebeu o que ia acontecer, afastou-se, deixando-se cair de novo com um gemido de dor – Lança. – murmurou quase sem voz e de olhos fechados – e não chames ajuda para mim – ele ia morrer ali.
-O quê? – Grace mandou um grito enquanto o olhava, mas já só viu o olhar de Rafael ficar mais agressivo do que já era. Ela estremeceu com um arrepio, assentindo logo, de uma forma meio assustada. Agarrou no seu arco, lançando a flecha para o mais alto que conseguiu. Puxou a corda para ver se estava mesmo bem presa e quando garantiu que sim, empuleirou-se na mesma, com a ajuda das pedras, tentando escalar aquele muro sem fim. Sentia-se fraca e mole, mas tinha que conseguir. Apanhou três sustos em que parecia que ia escorregar e voltar para o chão, mas nada aconteceu, ele agarrava-se sempre a tempo. – Eu vou chamar ajuda, não te vou deixar morrer aí. – gritou para Rafael quando já estava quase no topo, olhou para trás, tentando vê-lo e assim que conseguiu engoliu em seco, com uma enorme vontade de ir tentar acorda-lo. Ele estava inconsciente de novo, se calhar até estava morto. Não podia ir, era mais rápido correr para fora dali e gritar por ajuda do que voltar a ir lá para baixo, gritar para que ele acordasse.
Antes de saltar para a liberdade, olhou o recinto, principalmente para a zona em que tinha visto o corpo de Quint pela última vez, esse era outro; tinha medo que ele estivesse morto, eles não podiam morrer os dois... Aliás, nenhum deles podia morrer, eram irmãos. Quando Grace percebeu que não havia perigo, saltou encolhendo-se ao ver o sangue seco de Rafael no chão, juntamente com o corpo do outro monstro que também já estava a deteriorar-se. Grace quase vomitou só com o cheiro, mas não tinha nada para vomitar, o seu estômago era só ácido já há algum tempo.
Abanou a cabeça para tentar abstrair-se e pensar em alguma coisa para chamar ajuda. Mas como? Ela não podia simplesmente correr até casa da avó, ainda ficava longe, pelo menos a uma hora. Porque é que não havia mais pessoas nas redondezas? Tinham sido todas presas? O que é que se passava? Ela percebia tudo menos aquela cidade, que agora parecia uma cidade fantasma, completamente abandonada. Quando chegou à rua, o cenário era igual aos dos filmes ou das séries que ela via. Havia papéis pelo chão que eram levados pelo vento, folhas de árvores cadas e as próprias árvores da mesma forma. Uma das casas estava destrúida como se tivesse sido demolida. Grace tremia de medo, ela nunca se tinha sentido tão horrorizada como hoje, nem como aqueles dois rapazes, ou aqueles dois humanóides que pareciam rapazes, a tinham atacado, nem quando estava quase a morrer e a alucinar enquanto Rafael a levava até casa da avó para a corar. Estava com mais medo da realidade do que a morte. Aquilo era guerra e agora sim, tudo se encaixava. Tinha sido os humanos com os seus erros que tinham feito isto, então deviam ser eles a acabar, mas não, eles nem sabiam. Alguns não sabiam, porque os responsáveis sabiam sempre.
Com um suspiro sofrido, passou as mãos na cara e deu um salto quando ouviu barulho do lado de dentro. Eram pessoas. Finalmente ouvia-se pessoas. Começou a correr de volta ao hall de entrada, com as pernas ainda bambas, e atrás de si começavam agora a chegar jipes equipados.
-Mãe – gritou correndo para os braços de Marge, que estava a chegar do lado oposto do dela. Assim que Kate lhe tinha ligado, desesperada por não ter notícias, Marge colocou-se no comboio mais rápido e mal passara pela fazenda. Quando Grace sentiu os braços reconfortantes da mãe, começou a chorar baba e ranho, mas desta vez era apenas alegria, nunca tinha estado tão feliz por ver a mãe. Por puro milagre, Marge começou a dar beijos na bochecha da filha enquanto sentia que podia começar a chorar a qualquer momento também. Tinha estado tão preocupada, que agora que a tinha encontrado não queria saber de mais nada. – eu disse-te para não te aventurares, não disse? – perguntou, mas nem ligou à resposta da filha, começando a apalpa-la como se assim garantisse que ela estava bem. Marge estava com aquela roupa estranha que ela a tinha visto no outro dia, o uniforme dos caçadores e conseguia ver que, tal como Rafael, trazia a corda por baixo de uma proteção.
-O Rafael – foi a única coisa que ela disse quando conseguiu parar de chorar. Clariou a voz e agarrou-se aos braços da mãe, começando a abana-la – ele está a morrer mãe, ajuda-nos. – Marge ficou mais pálida, fazendo com que a filha olhasse para trás, para ver se havia alguma coisa atrás dela. – O Quint? Sabes do Quint? - Havia tantas coisas na cabeça dela que ela queria saber que nem as suas perguntas eram coerentes.
-Anda – murmurou agarrando-lhe na mão. Apesar de não querer exactamente salvar Rafael, ela percebeu que se não o fizesse Grace não ia aguentar, não por gostar dele, mas sim porque ela era fraca, humana, não estava habituada a nada disto. Acima de tudo queria ver a filha bem mas, se Rafael fizesse algo de mal, ela já não ia ser tolerante.
-Vais ajuda-lo não vais? – perguntou baixinho, ainda agarrada à mãe, mordendo o lábio para impedir que o seu queixo tremesse.
-Vou, mas ficas aqui em cima, garante que a corda fica presa – já estavam de novo de volta do grande buraco que havia no chão. Grace conseguia ver o corpo imóvel de Rafael por ela, ele estava quase no centro. Apontou para o corpo, para que a sua mãe percebesse. – Vai ficar tudo bem Grace – agarrou-lhe nas bochechas, fazendo-a olha-la e só se afastou quando Grace assentiu.
Com uma enorme agilidade e destreza, Marge saltou para o chão e caiu de pé, como qualquer gato faria. Em poucos segundos, depois de garantir que Rafael estava vivo, Marge agarrou-o ao colo, colocando o seu corpo em cima do ombro, para conseguir subir de novo. Ele não era muito pesado, apesar da força bruta e dos músculos possantes que tinha. Aquilo tinha sido mais fácil do que Grace pensara que ia ser. A sua mãe era uma verdadeira… heroína, e pensar que ela lhe tinha dito tanta coisa de mal fazia-a sentir-se ainda pior.
Depois de colocar Rafael no chão, sentou-se ao seu lado, tentando recuperar o fôlego, tinha-se esforçado para ser rápida, queria sair dali o mais rápido que conseguisse, para deixar a filha sã e salva.
-Há um jipe lá fora… - Marge ia continuar a falar, mas Rafael despertou com uma ânsia violenta, agarrando-se ao corpo da mãe de Grace como se ela fosse algo de surreal e imprescindível para a sua sobrevivência. – Não – gritou Marge assim que se apercebeu que era Rafael, fez pressão com as mãos na sua ferida, fazendo-o ganir de dor e voltar a deitar-se enquanto rebolava e gemia – Eu juro que te mato se te mexer mais. – rugiu-lhe. Grace, que estava a assistir a tudo, não se mexeu. Já tinha percebido que ele não estava normal, ou que simplesmente ele não era normal. Realmente, havia algo que não encaixava em Rafael, a forma como falava às vezes... era no mínimo estranha.
-O que é… - Rafael debatia-se sobre si mesmo, queria tanto… mas tanto… e depois eram as dores, eram tão fortes que desejava morrer já. Marge agarrou num paninho de ceda começando a limpar a sua mão ensanguentada.
-Ele é um dos outros Grace, o pai dele era um monstro. A tua querida avó preferiu destabilizar a família para tentar ajudar uma coisa que não pode ser ajudada. Podemos morrer todos por causa dele e ela nem se importa, ainda por cima não o manda embora contigo lá dentro – Marge estava furiosa de novo, Rafael era meio humanóide desde sempre, leva constantemente injecções - daquelas que Quint tomava também, mas para razões diferentes - para tentar não se reger pela fome que sente no dia a dia no meio daqueles caçadores humanos todos. Kate dá-lhe tudo o que ele precisa, só o quer ver bem, acredita que há possibilidade para todos os outros como ele, porque sim, ele era diferente, mas não era mau. Rafael tinha tudo menos a maldade e a raiva dos humanóides comum, mais parecido era o seu meio irmão, Quint, que fazia de tudo para ser mais forte que ele, queria ser sempre o melhor e sentia um ódio profundo sempre que perdia, tanto por si próprio com pelo adversário.
-Não o vais matar – disse Grace com as lágrimas nos olhos, não estava a conseguir reagir a nada, era demasiada informação para ela. – Ele salvou-me a vida, mais que uma vez, e agora está assim por minha causa. Nunca me magoou, ele… só está assustado e está fraco, não quer magoar ninguém – Grace tinha as mãos no cabelo de Rafael, que agora estava de novo a dormir, sentia que o percebia, como se as peças perdidas do puzzle fossem agora colocadas e o puzzle terminado. O retrato não era bonito, mas sobrevivia-se. – Vamos leva-lo, ele vai ficar bom. Eu e a avó vamos cuidar dele. Dele do Quint
Marge ao ver a filha de uma maneira tão diferente do habitual, tão forte, tão desesperada, apenas assentiu agarrando no corpo de Rafael, que agora estava de novo inconsciente.
-Há um jipe lá fora, todos os outros estão a ser evacuados neste momento – retomou a sua fala de há pouco. Começou a andar num passo apressado, que foi difícil de acompanhar, por parte de Grace. Sentia-se melhor apesar da má notícia, estava a voltar para a fazenda e apesar de tudo, a fazenda era um local seguro. Quanto a Rafael... não tinha medo, quando estava com ele, não sentia aquele nojo e repulsa que tinha sentido por instinto com os outros dois Humanóides. Assim que viu o jipe parado à frente do prédio começou a correr, abrindo a porta para que a mãe deitasse Rafael. – Ele não vai acordar tão cedo, mas fica com ele enquanto tratam dele – Grace ficou admirada com o que ouviu da mãe, nunca pensou ouvi-la pedir aquilo, mas não disse nada.
tan tan tan tan!!!
comentem vá lá, até veio mais cedo e tudo
assim que conseguir vou ler os vossos capitulos ^^
Olá :)
omg será que é esta que eu vou conseguir seguir do...
devo dizer que com o frio que estou consigo imagin...
Gostei imenso! Aliás adorei!Devo dizer que fiquei ...
ahahahahhahahaAHAHAHHAAHHAHAHAHAHAHAH ele é tão se...